por Alexandre França
Nesse final de semana, ver uma fotografia me fez lembrar uma situação que sempre me causou incomodo. Nos anos 80, uma famosa loja de decoração da cidade, com móveis de muita qualidade e design arrojado para a época tinha o hábito de fazer projetos de decoração para seus clientes em que tudo que havia na casa era descartado. Todas as memórias apagadas. O lar virava um show room extendido daquela loja. Inexplicavelmente mais de 30 anos depois, esse tipo de coisa ainda acontece. Tanto por parte de alguns fornecedores apenas interessados em desovarem seus estoques, como por parte de pessoas que acham que o novo é sempre melhor que o não novo. Talvez seja a cultura da falta de hábito em preservar a memória em nosso país, talvez mais um excesso de tempos tão materialistas. Nossa casa é nosso espelho. É nela que construímos nossas identidades e relações. Cada escolha, cada móvel e objeto são rastros para compreendermos nossas trajetórias individuais e coletivas. Ao achar que o “da loja “ é melhor, e se livrar dos pertences que trazem lembranças e afetos, vamos ficando mais endurecidos, menos sensibilizados à vida. Aos nos livrarmos tão facilmente das coisas, passamos a não ter consideração em descartamos as pessoas também..... Somos nossas escolhas.
Em minha casa, o que ocorre é o outro lado da moeda. Tenho móveis centenários convivendo pacifica e lindamente com móveis contemporâneos ,para horror dos meus filhos que preferem os saídos da loja, quanto mais hightech, melhor. Para mim, esses móveis antigos são obras de arte.
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