EDITOR : ALEXANDRE FRANÇA
COLABORDORES : ANDRÉ REIS E BETH SHIMARU

sexta-feira, 25 de julho de 2014

"DIÁRIO DE OUTROS DIAS"

por Alexandre França

Será que ter saudade é saudosismo? Lembrar de coisas gostosas, momentos simples que foram deixando as pistas para descobrirmos quem de fato somos nós. As cores, os cheiros, a voz da mãe, o beijo escondido, o sorvete da esquina. Talvez memórias nem tão longe, mas também há anos-luz do atual presente. Tem horas que sinto como se já estivesse vivendo uma outra encarnação ainda nesta. O mundo está muito diferente, assim como nós mesmos. Não sei se ficando mais velhos, as coisas vão se acinzentando para muitas pessoas... Escuto com frequência relatos de uma ausência de momentos delicados, das poucas possibilidades de mais sermos do que termos. Teclamos tanto nos celulares e computadores e já não sabemos mais escrever. Cada vez mais solitários entre milhares de “amigos“ no facebook. E onde fica a poesia de viver? Aquilo que não se diz com palavras nem ícones? O precioso? O delicado? O único? A possibilidade de freiar o mundo?

Gosto de ver o mundo com lentes alaranjadas, cheias de energia criadora e preenchida de constante renovação interna. E sempre que quero renascer, busco tudo de legal que está guardado em mim. Todos que já fui e sou.

Por isso esse post tem um gostinho do final dos anos 70 e começo dos 80. Dias felizes e simples, escritos como um diário de outros dias.. Ver “as Panteras” depois da novela das oito. No domingo a “Mulher Maravilha” depois do almoço de família. Um “kri” na hora do recreio. Ficar sabendo dos famosos na capa da “Manchete” na espera do dentista. Tentar dançar como o John Travolta e a Sônia Braga em “Dancing Days” meio escondido por causa da vergonha. Ter tempo de querer ser arquiteto ou engenheiro brincando com os blocos do “Pequeno Construtor”, ou se esbaldando no “Pianinho colorido da Estrela”. A vida era como a aguinha que subia no “Aquaplay”, leve e divertida. Mas nada como ser seu próprio Dj, gravando vozes, histórias e suas músicas prediletas numa fita cassete. E ouví-la infinitamente. Chega de diversão, hora de pegar a “Barsa” e estudar porque o mimeógrafo já está rodando as provas de amanhã.


Dá sempre pra nascer de nós mesmos.


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