EDITOR : ALEXANDRE FRANÇA
COLABORDORES : ANDRÉ REIS E BETH SHIMARU

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

"Viajar para mais além do ver: Na Índia com o Dalai Lama!"

por Claudio Barboza Shazimdo


O mundo possui caminhos os quais, nós aqui, não conhecemos bem. Lugares distantes, culturas ancestrais e uma infinidade de cores, cheiros e movimentos que estão fora da realidade do cotidiano.


Quando decidi me juntar a um grupo de 100 pessoas rumo a Dharamsala senti que a viagem seria para bem “mais” longe que o Oriente. Após várias viagens a lugares incríveis, percebi que não me bastava conhecer fisicamente o mundo. Havia outra grande viagem a ser feita, agora o caminho era para dentro de mim.


Reunidos em Paris, o grupo composto por pessoas do Chile, Brasil, Colômbia, Argentina, Venezuela e França, seguiu rumo à Nova Delhi, capital da Índia. Lá conhecemos a Old Delhi e suas ruelas, pessoas e hábitos; enlouquecemos com o transito caótico e nos deslumbramos com as cores, os cheios, os sabores de um exotismo sem fim, característicos da Índia. Depois fomos a Agra, conhecer o Taj Mahal, monumento símbolo da Índia turística. Nossa próxima parada foi Amritsar, na fronteira com o Paquistão, lugar onde se encontra o templo dourado, porém não foi para ver a famosa cerimonia de paz feita entre os países que fomos até lá. Fomos montar um comboio de 25 carros que seguindo pelas perigosas estradas indianas chegou a Dharamsala, já nos Himalaias, para nos encontrarmos com a Sua Santidade Dalai Lama.


Após a invasão chinesa, o Tibet tornou-se China, e Sua Santidade Dalai Lama, até então o líder espiritual e político daquele povo, encontrou exílio no Norte da Índia, e para lá milhares de tibetanos fugiram atravessando as montanhas nevadas que cobrem esse canto da Terra. Hoje, não existe mais a liderança política dos tibetanos, o que existe são sobreviventes, exilados, que através da guia de Sua Santidade, preservam os costumes, hábitos de uma vida pautada na busca espiritual. O budismo, que é como que um amalgama de religião, filosofia, ciência, estilo de vida, consciência de si, que une centenas de pessoas que chegam a esta pequena cidade encrustada nas montanhas, pois é atrás dos benefícios desse estilo de vida que muitos “buscadores”, turistas e aprendizes chegam ao templo de Sua Santidade Dalai Lama para escutar suas palavras.


Dharamsala, é uma pequena cidade que mantém tudo o que se “espera” ver na Índia: vacas soltas nas ruas, macacos, esgoto a céu aberto, pobreza, mendigos, porém Dharamsala, é o céu, já que em meio a esta confusão sem fim, se encontra algo muito valioso: a paz.


Após algumas palestras e minicursos sobre o buddismo, estávamos preparados para encarar os três dias de lições com S.S. Dalai Lama. O tema do curso foi o livro de Shatideva: Bodhicharyavatara (O caminho para a iluminação). As principais lições aprendidas são as perfeições do Bodhisattva: generosidade, disciplina, paciência, perseverança, contemplação e sabedoria. Realmente os ensinamentos que são passados ultrapassaram e muito a minha maneira leiga de compreensão, pois o mais perceptível não é o que se escuta, e sim o que se sente na transmissão desses ensinamentos. Conhecido como o Budda da compaixão, Sua Santidade, realmente transmite esse sentimento tão naturalmente que percebemos a energia do amor bem de perto! Foi um grande aprendizado, a congruência com que ele leva a sua vida, já que há setenta anos que ele ocupa essa posição, e sua obra que transcende a época e o local em que se habita.


“Todos os seres viventes sofrem, e na mesma medida buscam a felicidade”. Essa frase resume a compaixão que os budistas buscam para viver todos os dias, o respeito aos demais, suas questões e suas dores esse é o grande exemplo de modus vivendi, esse conflito entre exigir respeito e respeitar, perturba a paz de bilhões de seres. Com essa nova consciência e percepção o nosso grupo despediu-se dos himalaias indianos e voltou pouco a pouco para suas casas, agora com o coração tocado pela luz e presença de um ser que respira, sim, a compaixão. A Índia, o Taj Mahal, os elefantes, as cores, a comida, tudo isso se tornou pequenas alegorias de uma viagem muito, muito além dos sentidos.


Claudio Barboza Shazimdo, 26
Sua palavra de vida é caminho. Sua paixão viajar. Percebendo o mundo sob os mais variados ângulos.

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