EDITOR : ALEXANDRE FRANÇA
COLABORDORES : ANDRÉ REIS E BETH SHIMARU

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"SEXTA RETRÔ : PEQUENOS CONTRATEMPOS DOS ANOS OITENTA."

por Alexandre França

Quando as fichas acabavam no meio da ligação feita do orelhão.


Ou o disco riscava bem na melhor música.


Você datilografava errado a última palavra da página e não tinha fita corretiva de máquina de escrever pra consertar.

A fita do Atari não funcionava nem depois de você assoprar.


O locutor falava as horas ou soltava uma vinheta BEM NO MEIO DA MÚSICA que você tinha passado horas esperando pra gravar.


E depois o toca-fitas mastigava a fita.

O locutor não falava o nome da música quando ela terminava.

E você ficava anos sem saber quem cantava ou como chamava aquela música que você tinha amado.

Você perdia a chave do diário ou a folha com a tradução do código secreto que você tinha tido o maior trabalho para criar.


Seu irmão bebia o líquido das Mini Cokes e alguém dizia que o filho do amigo do tio do vizinho tinha morrido depois de beber o líquido das Mini Cokes.

Alguém fumava dentro do ônibus, ou do avião ou do elevador.


Você tinha que pagar multa por devolver a fita de vídeo pra locadora sem rebobinar.

O ki suco vazava da garrafinha da sua lancheira e molhava as bisnaguinhas com patê.

Você tirava as letras das músicas em inglês tudo errado e depois descobria, no folheto da Fisk ou na Bizz Letras traduzidas, que estava tudo errado mesmo. Mas já era tarde, pois você já tinha decorado errado (e canta errado até hoje).

Fazer permanente.

Cortar cabelo repicado.


Você arranhava com todo cuidado, mas quando levantava o papel via que o decalque Ploc Monsters tinha saído sem uma perninha.

Você NUNCA tirava seu nome no Ploc Monsters.


A televisão resolvia sair do ar no dia do capítulo final da novela e seu pai tinha que subir no telhado para mexer na antena. Ele gritava lá de cima “melhorou?”
E você, embaixo, avisava: “melhorou o 5, o 7 e o 9. Piorou o 4, o 11 e o 13”. E nunca todos os canais ficavam bons ao mesmo tempo.

Chegar à padaria e lembrar que você tinha esquecido o casco do refrigerante.


A Kombi que trocava garrafas velhas por picolés e pintinhos passava na sua rua um dia depois da sua mãe jogar tudo fora.
Cair de costas enquanto tentava reproduzir o moonwalking de meias no piso encerado.

Você descobria que todas as 36 fotos do seu aniversário tinha ficado desfocadas. E algumas tinham queimado, porque o rebobinador da câmera tava meio enguiçado.
E alguém tirar uma foto disso.
E essa foto não queimar, nem ficar desfocada, e de alguma maneira ir parar na internet anos depois.

Tirar a letra Z no STOP.

Quebrar o controle do Atari depois de se empolgar jogando River Raid.

Alguém responder “VOCÊ” à pergunta “Quem você deixaria numa ilha deserta?” no seu caderno de enquete.

Quando sobrava só o lápis branco da caixa de 36.









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