por Alexandre França
Concebida nos mínimos detalhes por Henri Matisse, mestre do Fauvismo, grande movimento artístico da Arte da primeira metade do século XX, a Capela do Rosário, em Vence, França, é antes de tudo um lugar de recolhimento.
Acompanhe sua “história de construção” pelo texto do francês Dominique Gerbaud com tradução de Rui Martins.
“Quando o trabalho foi concluído, a irmã dominicana Jacques-Marie pressentiu que a capela arriscava-se a não “passar”. Que o caminho da cruz era de uma rara violência, os desenhos eram demasiado sóbrios para uma igreja, o altar voltado para a assembleia.
Estamos em 1951. O Concílio ainda não tinha sido anunciado. “E porquê o seio?”, perguntou ela a Matisse. “É para mostrar a maternidade da Virgem, sem a qual ela não teria razão de ser”, respondeu-lhe o mestre. “E porquê a violência do caminho da cruz?” “Porque é um drama, minha irmã. Tudo se enovela e acontece a grande velocidade.”
A irmã Jacques-Marie, que tinha pedido a Matisse alguns dias para “digerir” a obra, só ficou meio convencida. No entanto não vai demorar muito tempo para amar profundamente esta capela. Um pouco porque respeita o mestre e partilha com ele uma profunda cumplicidade, mas sobretudo porque seguiu, compreendeu e partilhou a sua evolução renovadora. Em pouco tempo compreendeu tudo. Mas pressentiu que seria necessário explicar as escolhas do mestre e, ao tempo, não havia especialistas em comunicação. Sobretudo neste domínio.
E aquilo que ela temia, aconteceu. A revolucionária capela é mal recebida. O modernismo foi difícil de aceitar. “Muitos visitantes insultavam-nos e não se poupavam a expressá-lo no livro de honra. Houve mesmo algumas manifestações na capela; conseguimos restabelecer a calma, mas não sem consequências”.
O tempo passou e todos esses acontecimentos foram esquecidos. A capela atrai hoje 70 mil visitantes por ano. Para uma grande maioria, é o encantamento. “Há pessoas que choram ao entrar”, conta a Irmã Myriam, responsável da comunidade das Dominicanas do Rosário, proprietária do lugar. “É uma emoção que não é apenas artística. É a modéstia da capela, a sua simplicidade, a sua extraordinária limpidez; tudo isso tem um forte impacto em certas pessoas.”
Constata-se hoje que Matisse ganhou a sua aposta porque, como referia um visitante, “a simplicidade do lugar leva a meditação.” “É de tal maneira simples que é belo”, diz outro. Um terceiro sublinha a “sinceridade” do lugar: “era preciso que ele acreditasse para fazer desta fora”. E todos insistem no jogo das cores, na predominância do azul que confere uma ligeira impressão violeta aos muros brancos de uma das arestas.
Para os vitrais, Matisse escolheu três cores. O verde e o azul transparentes. Verde da vegetação, azul do mar e do céu para evocar a criação. O amarelo, por seu lado, é opaco. Ele não deixou escapar nada. Porquê? Porque o amarelo de Matisse é a cor do sol, e o sol é a luz. E a luz é a imagem de Deus, este Deus que não podemos ver com os nossos olhos.
Este jogo de luz, estes reflexos sobre os muros brancos dão, num espaço muito limitado, a ideia de imensidão. “O papel da pintura”, dirá Matisse, "é o de alargar as superfícies, de fazer com que deixem de se sentir as dimensões do muro. Eu apenas disponho de um pequeno espaço mas quero dar-lhe uma dimensão infinita”. Foi um desafio conseguido. A capela não tem senão cinco metros de largura sobre quinze de comprimento, mas não há a impressão de se estar fechado, muito por causa dos muros brancos e das cores que mudam ao longo do dia e das estações. A perfeição das formas anula as dimensões do espaço e os reflexos dos vitrais sobre as cerâmicas reluzentes animam a capela. Tudo é repouso e quietude.”
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