por Rejane Paiva - Suiça
Já pensou em ter um jardinzinho só seu? Um pedacinho de chão onde pudesse plantar as mais lindas flores, cultivar seus próprios legumes, suas alfaces, ou simplesmente um cantinho onde pudesse relaxar em contato com a terra, estender uma rede, ler um livro e até mesmo fazer um churrasco com os amigos?
Schrebergarten em Kloten, Suíça.
Pois o O Dr. Daniel Gottlob Moritz Schreber (1808/1861) pensou. Este médico alemão, um dos fundadores da medicina naturalista, percebeu que as pessoas podiam reencontrar seu equilíbrio emocional através do cultivo dos jardins e mesmo as crianças poderiam conhecer melhor as plantas comestíveis cultivando suas próprias hortas. São os chamados Schrebergärten (Jardins do Schreber), Heimgarten, Kleingarten, ou ainda familiengärten.
Além de uma excelente alternativa ao estresse moderno e uma opção saudável de cultivo de alimentos biológicos, vejo nesses jardins uma alternativa inteligente ao nosso caos urbano que nos faz conviver com grandes áreas de terreno baldio no centro da cidade, áreas abandonadas na zona periférica, ou áreas próximas a vias férreas, onde não se pode construir, por exemplo. Pensar nesses jardins é oferecer um contraponto de equilíbrio ao imenso crescimento urbano e à industrialização das cidades.
Schrebergarten em Hamburgo, Alemanha.
Terrenos pertencentes à prefeitura, muitas vezes reservados a obras importantes no futuro, ou abandonados depois de alguma outra utilização, que ficam anos na ociosidade sem que a população possa usufruir de qualquer benefício (quando não tem que conviver com ratos e baratas em meio ao lixo que vai ali se acumulando), podiam muito bem ter este destino.
Funciona mais ou menos assim: a prefeitura disponibiliza esses terrenos de sua propriedade através de edital para quem queira alugar pequenas parcelas do espaço pelo período de um ano. Oferece no local uma infraestrutura básica como cercas (telas) divisórias com portões, caminhos comuns para entrada nas unidades, água encanada e espaço coletivo para depósito e recolha do lixo. No espaço individual de cada um (em torno de 25 a 30 m²) é permitido a construção de um barraco de, no máximo 12 m². A função desse barraco é proteger da eventual chuva ou do sol nas horas mais quentes. Serve também para guarda de ferramentas, uma pequena cozinha improvisada e até mesmo para tirar uma soneca depois do almoço. A construção do barraco geralmente é responsabilidade do inquilino que, ao desistir da propriedade, pode recuperar o investimento repassando os custos ao novo locatário.
Schrebergarten em Kloten, Suíça.
O pernoite no local é proibido (já estavam vocês tendo ideias!...). Além do cultivo, também é permitida a criação de pequenos animais como coelhos ou galinhas. Cada agrupamento de jardins tem a sua própria administração e os inquilinos se reúnem para discutir as questões coletivas ou nomeiam seus representantes, como num grupo de condôminos. Na Suíça, por exemplo, galinhas são permitidas, mas sem a presença dos galos. O motivo? A lei do silêncio. A cantoria dos galos atrapalha o merecido descanso de quem busca o sossego nesses jardins. Ligar o som no último volume então, nem pensar! Nada de colocar sertanejo, pagode ou funk pancadão para a comunidade ouvir (já estavam tendo novas ideias, não é?). As taxas de aluguel costumam ser bem em conta, fazendo com que o tão sonhado pedaço de terra esteja ao alcance de todos: giram em torno de 200 a 300 Reais (preços convertidos) por ano. No final de um ano, pode-se renovar o contrato ou desistir do espaço.
Quem não zela pelo seu pedaço de chão pode perder o direito de renovar o contrato. Desse modo, todos os jardins estão sempre muito bem cuidados, e as pessoas realmente conseguem usufruir bem da proposta.
Só na Alemanha existe hoje em torno de 19.000 alqueires paulistas de terras ocupadas com mais de um milhão desses pequenos jardins. Eles se tornaram uma espécie de pulmão verde nas cidades. Mas a moda já se espalhou por todo o lado: Na Holanda são chamados “volkstuin", na Inglaterra foram implantados os “allotment”, na França surgiram os “jardin familiaux”, na Finlândia os “siirtolapuutarha”, na Áustria denominam-se "Heimgarten", na Suíça, "Schrebergärten", e na Suécia são os “koloniträdgard”. Por que não podemos criar os nossos próprios jardins no Brasil?
Se engana quem acha que esses jardins são ocupados apenas por pessoas de mais idade: cada vez mais jovens fugindo da vida dura dos apartamentos nos grandes centros urbanos procuram esse contato com a terra. Até mesmo os pais modernos, mais conscientes da importância dessa vivência para os seus filhos, têm buscado esse lugar especial para as brincadeiras: lugar onde amarrar um balanço, colocar a piscina de plástico, descobrir a vida dos pequenos animais e insetos, improvisar um almoço… e não apenas o plantio de flores, árvores e legumes e frutas. Mas sem dúvida é importante para as crianças ver uma semente a germinar. Esse tipo de espaço alia conceitos de educação, exercício ao ar livre e saúde.
Schrebergarten em Opfikon- Glattbrugg, Suíça.
Então a minha contribuição de hoje é não só considerarmos a possibilidade de ter o nosso próprio jardim, mas sugerir que nossas cidades viabilizem a ideia através do Plano Diretor do município: acaba com o problema dos terrenos baldios e áreas de abandono, cria novas áreas de lazer, divide com a população os cuidados com a cidade, ensina os jovens, dá ocupação saudável a todos e ainda embeleza o espaço urbano. Qualidade de vida também é isso.
Muito bom Rejane!!!! quem dera isso fosse implantado em todos os paises...
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