por Ingrid Assis P. de Oliveira.
Paris. Capital da França. O país da Torre Eiffel, construída em 1889 em uma exposição
universal para homenagear os 100 anos da queda da Bastilha.
Paris. Cidade Luz. Onde fica a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, a Catedral de Nôtre-Dame
e o Arco do Triunfo, entre outros tantos pontos turísticos e patrimônios da
humanidade.
Quero
falar de Paris. Mas resolvi falar da Paris que conheço, da cidade que a cada
visita, cada caminhada, sinto vontade de não ir embora nunca mais. A cada
ida, sinto-me surpreendida . Surpreendida, como não me sinto com as novidades
do dia a dia ou da ciência e tecnologia.
Paris,
do cheiro amadeirado de tabaco nos cafés. Mesas e cadeiras apertadas. Sentar ao
ar livre no frio. Sopa de cebola e um pão meio borrachudo, até. Delicioso. Um
cão dormindo embaixo da mesa vizinha. Beber água com gás na garrafinha, com
canudinho. Crème Brulée.
Ah,
Paris… onde as pessoas andam com uma baguete com queijo brie embaixo do braço.
Sentam-se em um degrau à beira do Rio Sena, em um canto de alguma ponte, onde
houver um espaço verde qualquer. Deitar na grama fria e levemente úmida. Quem
sabe até um pequeno cochilo ao ar livre.
Onde
as pessoas falam baixinho, com seu idioma de som tão aveludado e são
naturalmente charmosas. Gostam de moda na sua essência mais frívola e ao mesmo
tempo identificadora do sujeito. Paris de Serje Gainsbourg, com seu imenso
nariz e charme irresistível. Das mulheres de porte, de seios pequenos e de
quadris e bumbuns proeminentes. Mulheres marcantes por um despojamento
milimetricamente planejado. Fêmeas de beleza sutil, sensualidade implícita.
Catherine Denevue, Brigitte Bardot. Presença.
Não
há sensação mais deliciosa que voltar a pisar nas ruas de Paris e caminhar.
Caminhar sem rumo, sentindo o vento gelado no rosto, entrando nos cabelos, ao
mesmo tempo que um solzinho gostoso acalenta a alma. Perder-se. Na arquitetura,
nas artes, nos parques, jardins, praças, pessoas, locais, no tempo. Não
conseguimos definir ao certo o tempo, a época. Paris: cidade atemporal. Fora de qualquer script.
Montmartre,
uma das regiões mais interessantes da cidade, é tomada pela nostalgia, pela
arte. Foi a meca dos principais artistas, escritores, poetas, discípulos e
boêmios no final do século 19. Reduto dos principais cabarés, bordéis e festas
noturnas intermináveis.
Vários
artistas se renderam à boemia e atmosfera de Montmartre e passaram parte de
suas vidas lá. Seja morando ou frequentemente visitando. Modigliani, Salvador
Dalí, Toulouse-Lautrec, Vincent Van Gogh, Oscar Wilde, Pablo Picasso, Leon
Trotsky, Rudolf Nureyev, Roman Polanski, Josephine Baker, Marlene Dietrich,
Hemmingway, Proust, Luiz B˜unuel, Gertrud Stein, Cole Porter…
Quartier-Latin.
Livrarias, cinemas, cafés e clubes de jazz ocupam o antigo bairro, às margens
do Rio Sena. Outro bairro que sempre foi
associado a intelectuais, artistas e à
vida boemia. Dominado pela Sorbonne, historicamente marcado pelas agitações
políticas e pelas revoltas estudantis de 1968. Brilhantemente retratado por
Bernardo Bertolucci, em Os Sonhadores.
Depois
dessa época, parte do bairro estava tomada por lojas e lanchonetes decadentes.
Hoje o local se encontra tomado por designers, jovens artistas, cafés
descolados, salões de beleza hipermodernos, brechós fascinantes e limpos,
pessoas de espírito jovem, elegantes e simpáticas.
A
região transformara-se em um local lindíssimo e moderno, tornando-se reduto
GLS, frequentada e habitada pelos chamados hypsters
e livres de espírito. Crianças pequenas com seus gorrinhos brincam felizes
enquanto suas famílias batem papo, beliscando algum petisco natureba ou tomando
algo inusitado, como um smooze de
tomate.
Outra
parte do bairro abriga livrarias caóticas, como a Shakespeare & Co
Kilometre Zéro Paris, onde é possível achar-se qualquer tema, qualquer escritor
que se possa imaginar. Dos antigos ao contemporâneos. A loja é minúscula.
Ouve-se o rangido das tábuas de madeira do chão e das escadas. Em alguns
minúsculos cômodos da loja não é possível ficar totalmente em pé, mas há
poltronas empoeiradas para os clientes sentarem. Também há um pequeno cômodo
escuro, onde mal se enxerga coisa alguma; é onde os preciosos livros raros
ficam armazenados. O cheiro de livro velho predomina e inebria os amantes da
leitura.
Atravessando
a Ponte St. Michell, de Quartier-Latin, chega-se em Île de La Cité. Onde já foi
centro de poder, mas que hoje em dia somente a religião continua presente.
Atrai turistas pela imponente Catedral de Nôtre-Dame. Atravessar a “ilha” para
chegar à outra margem do Rio Sena faz-nos passar por ancoradoures, cercados de
árvores, muito charmosos e pitorescos. Se começar a chuviscar o melhor lugar
para se proteger é embaixo das copas das árvores, sentado em um banco de
madeira. As chuvas de primavera de Paris
são curtas e deliciosas.
Chegando à Pont des Artes vêem-se os cadeados
presos a seus arames. Os cadeados simbolizam o amor mútuo. Pela lenda, o casal
que prender o cadeado alí e jogar as chaves nas águas do Sena ficará para
sempre junto. Deve-se escrever os nomes do casal no cadeado, escolher um lugar
nas grades da ponte, prender e lançar as chaves ao Senna. Amores. Cadeados(?).
E
essa Paris não estaria completa se não citarmos Le Marais. Uma das áreas mais
fascinantes de Paris. As ruas são cheias de vida, repletas de galerias,
restaurantes, butiques e centros culturais. Impressiona a diversidade cultural
e a mistura étnica de judeus, argelinos, asiáticos e outros.
Aos
domingos, há diversas apresentações musicais pelo bairro. Música clássica e
jazz predominam. Tive o privilégio de conhecer em uma ruazinha dessas, “Richard
Miller’s Riverboat Shifflers”, um
conjunto formado por jovens senhores com seus 80 anos. Fantásticos.
Principalmente pela presença encantadora de Madame Madaleine, a alma do
conjunto! A elegante e bela senhora sapateia e dança ao som do jazz como nunca
havia visto antes.
Pego-me imaginando como viveram durante todos esses anos em Paris. Chego a pensar que o passado talvez tenha sido uma época melhor. Saudades de um tempo que não vivi… Caio em mim. Madame Madaleine vive o hoje. Seus olhos cheios de brilho e sua alegria contagiante, não vivem no passado. Vivem o hoje.
Achei diferente o seu texto, como o modo com que você dispõe as frases... Não sou nenhum cult, mas apreciei a sua escrita.
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